terça-feira, 16 de novembro de 2010

Textos Dialogantes numa homenagem a José Saramago

Hoje, 16 de Novembro, o nosso grande escritor, José Saramago, foi recordado da melhor forma possível na nossa Biblioteca. Na verdade, que melhor forma de prestar homenagem a um escritor que apresentar um bom fruto da leitura dos seus textos?
A ocasião serviu pois para a recordação de um texto colectivo redigido no ano lectivo de 2005-2006 pelos alunos das turmas A, B e C do 8º ano de então. O referido texto intitula-se «Uma Viagem a Marte» e inspirou-se na leitura dos textos: a crónica de José Saramago, «Um Azul para Marte», da sua obra «Deste Mundo e Do Outro»; «Os Três Cosmonautas», de Umberto Eco; a composição musical «What a Wonderfull World», de Louis Armstrong e nas notícias de jornal , rádio e televisão sobre o encerramento de escolas nas zonas do interior do nosso país. 
 Como texto dramático que é, «Uma Viagem a Marte» chegou já a ser representado tendo alguns dos próprios autores subido ao palco do Centro Comunitário de Salir no ano lectivo de 2006-2007.


Por impedimentos vários, o texto não chegou às mãos de José Saramago.

Hoje, dia em que se comemora o nascimento deste nosso grandioso escritor, queremos tornar maior o texto resultante de uma leitura atenta de uma das suas crónicas.
O Blogue da Biblioteca está a ser o meio escolhido para a divulgação de uma das obras colectivas redigidas na Escola de Salir.

Uma Viagem a Marte

Cena I
(Sofia, a repórter apresentadora, sentada nos degraus do palco)

Sofia- A noite passada fiz uma viagem a Marte.
(Gera-se um burburinho na plateia; o burburinho aumenta e vão-se concretizando diálogos)
Tiago Amaro- Ó Jaquim, este ano não posso matricular o meu moço lá na escola da aldeia!
Vasco- Então porquê?
Tiago Amaro- Vai fechar! O moço vai ter que ir lá para onde não conhece ninguém, para junto daquela matula toda!
Vasco- Não te martirizes, homem,vais ver que ele sehabitua àquilo, junto da matula, como tu dizes.
Tiago Amaro- Mas o que mais me preocupa é não poder acompanhar os estudos do meu filho. Hão de dizer, depois, que os Encarregados de Educação não querem saber dos filhos. Ora se eu trabalho e moro longe da escola é difícil ir à escola, não lhe parece? Para já não falar do tempo que o moço perde para chegar à escola!
Soraia- Bem, mas que pobreza, estas terrinha está cada vez pior! Não acha, Álvaro?
Vítor- Pode crer, Bitó!
Soraia- Não tem nível nenhum, só pindéricos, uns atrás dos outros...
Rita- ~Mãe, eu quero ir para a universidade, já disse.
Liliana- Nem penses nisso!
Adriana- Isso é muito caro e fica muito longe...
Rita- Mas, avó, eu sou muito nova, quero ir para a universidade. Já viu as minhas notas?!
Liliana- És nova para trabalhar, mas para namorar já não és nova. Vais trabalhar porque eu quero!
Rita- Ó mãe, estás a ser muito injusta!
Liliana- Injusta?Hás-de pensar que eu sou rica!Todas as roupas de marca e todos os outros gastos que fsazes... e para mim e para a tua avó, tenho que comprar tudo no mercado!
Sofia- rrrrrr rrrrrr( Irritada)
Adriana- Olha a mulherzinha, está com tosse, vá ao médico!
Sofia- Você cale-se, não vê que está a interromper?
Adriana- Você tenha mais respeito para com os mais velhos, mas o que é isto?Já chegámos à república das bananas?
Sofia- Daqui a pouco, está aqui, está lá fora!
Adriana- Ora essa, eu paguei o bilhete foi para ficar aqui dentro, não foi para estar lá fora!

Cena II

(Entra o segurança e leva a avó para a rua. Esta oferece resistência, mas acaba por abandonar a sala e é seguida pela neta e pela filha que reclamam, enquanto se dirigem para a porta.)

Liliana- Também., não devemos perder nada de jeito, só mesmo o dinheiro do bilhete.
Rita- Já dava para as calças que eu te pedi.
Liliana- Primeiro a cultura. Olha, vai mas é aturar a tua avó, que eu fico aqui.
Rita- Sobra sempre para mim!

Cena III

(A Sofia regressa às escadinhas do palco)

Sofia- A noite passada fiz uma viagem a Marte. Estive lá dez anos . Comprometi-me aq não divulgar os segredos dos marcianos, mas vou falrar à minha palavra. Sou da raça humana e desejo contribuir na medida das minhas pequenas forças para o progresso da humanodade a que me orgulho pertencer. É que foram dez anos, repito!

Cena IV

(Ouve-se música de fundo e, quando a música pára, chegam os terrestres a Marte.)

Mulheres Terrestres- Isto é escuro!
Carina- Ó Cabrita, que dirão os marcianos de todo este colorido?Tens que ter cuidado, olha que eu vou briolhar aqui!
Adriano- Cala-te, amor, nós temos que ser diplomáticos!
Carina- O que é isso?
Adriano- Deves ter comido todo o queijo que trazíamos na nave, andas mesmo esquecida! Ainda há pouco te dei umas lições de diplomacia.
César- A dona tem razão, que tristura!
Andreia- Ao menos tu não me dás lições de diplomacia, ou lá o que é isso!
César- Eu cá sei é de peixes e de mar. Também percebo alguma coisa do céu. Sei adivinhar as chuvas e os ventos. 
Julien- Isto aqui parece-me bem feito.Eu bem vi as paisagens quando vínhamos chegando. Devia era ter trazido mais  uns queijos, que a dona do senhor Cabrita parece que os comeu todos.

Cena V
(Um grupo de marcianos aproxima-se ,curioso ,e reage, festejando, à presença das cotres no seu planeta. Pulam, dançam e fazem barulhos esquisitos em volta dos terrestres. Ouve-se música.)

Cena VI

(o terrestre Julien adoece e os outros tentam comunicar o sucedido aos marcianos)

Carina- ti nó ni, ti, nó, ni
(Os marcianos dançam ao som da ambulância)

Andreia- (Virando-se para os marcianos) Ó homem, então um tipo aflito evocê a brincar?!(Faz o gesto de quem vai morrer. Dois marcianos juntam-se , improvisando uma cadeira com os braços e levam o Julienpara o hospital, que fica logo ali.)

Dr. Cabrita- Ouçam, estes tipos funcionam mesmo. (Ficam a conversar à porta do hospital, enquanto os espectadores observam o dia-a-dia dos marcianos. Uma mãe marciana leva o filho à escola, dedicando-lhe muita atenção, sem pressas...) Tudo fica perto , aqui! (Passa um marciano com um livro debaixo do braço e entra na universidade. Os terrestres mostram,aprovação.)

Cena V
(o terrestre Julien sai do hospital, caminhando com grande desenvoltura.)

César- Então, homem, essa perna já funciona?
Julien- Como nunca, homem, como nunca!E eu que deixei lá a Chica à espera da consulta!Bem que a podia ter trazido!

Andreia- Como é que vossemecê havia de adivinhar que isto era assim tão evoluído?!
Carina- Telefona-lhe, a ver se ela já foi atendida.
Andreia- DEF, tecla três, acha que temos rede aqui?

Cena VIII

(Os marcianos convidam os terrestres a participar denominado «Alienstreets», que consiste em fazer truques com a bola. o resultado é Aliens 25, Terrestres 2. No fim do jogo, o Adriano oferece água trazida da Terra aos marcianos e estes reagem à bebida rodopiando sem parar.)

Carina- Amor, leva-os para o hospital!
César- Esta reacção é normal, não te preocupes.
Carina- Ó homem, sabes lá tu?
César- Estás a ver, já pararam!

Cena IX
(Escurece e os marcianos retiram,-se para dormir.)

Marciano- Ronn, rrrooom...
Carina- Olha, ressonam como nós!
Andreia- Os sonhos deles é que devem ser diferentes.
Carina- Eles é que sonham mesmo a preto e branco.
Andreia- Aí é que você se engana! Cá para mim, eles é que já tinham sonhado com as cores. Não viu como eles ficaram quando nos viram chegar assim, todos coloridos!
César- Vê-se mesmo que és minha mulher, pensei no mesmo.

Cena X
(Os terrestres juntam-se, chamados pelo Dr. Cabrita.)

Dr. Cabrita- Amigos, chegou a hora de tomarmos uma grande decisão: Convidamos ou não convidamos os marcianos a visityar o nosso planeta?
Julien- Pois, cá para mim, se os convidarmos, passaremos uma vergonha maior que os dois planetas juntos.
César- Acha mesmo, compadre? Eu levo-o à pesca comigo, que ele nunca viu tanto peixe junto nem um marv tão bonito como o do Algarve.
Adriano- Pois eu sou da opinião do Senhor Julien. Imaginem que algum deles adoece no nosso planeta. Será grande vergonha, pois teremos de pôr a descoberto um dos sistemas dec saúde mais deficientes do universo.Por outro lado, como poderemos nós esconder o facto das escolas encerrrarem  de dia para dia?E como esconder os enormes contrastes paisagísticos do nosso país?
César- Ó homem, troque isso por miúdos quev eu não estou a entender nada.
Julien- Pois eu explico-lhe, compadre, você parece um sonhador, por isso é que sentiu os sonhos dos marcianos. Aqui, em Marte, existem os mesmos serviços que na Terra, mas estão nos sítios certos. Pelo que pude observar, não estou vendo os marcianos a encerrarem escolas, hospitais e universidades, sempre que estes são necessários. Eles são muito práticos e sensatos. Eu bem vi as paisagens quando vínhamos quase aterrando.
César- Amarciando, homem. E depois eu é quev sou o lunático!
Julien- Ó isso, homem. Eu bem reparei como estev planeta está bem organizado pelas regiões. Tudo bem repartido, é como se os governantes aqui fossem justiceiros.
Adriano-Agora, usou mesmo a palavra certa. Neste planeta, parece que existe justiça social, reina aqui um equilíbrio como nunca antes vi.
César- Pois é, mas é tudo a preto e branco. Cores só mesmo nos sonhos.
Adriano- Lá diz o poeta: «O sonho comanda a vida».
Julien- E o senhor acha que os marcianos nos vão seguir pelo espaço?
Adriano- Parecem-me homens de coragem!
César- Bem, mal por mal, mais valia sermos nós a convidá-los. Eu cá tenho um mar lindo para lhes mostrar e, à noite, no meu barco, podiam dizer adeus ao seu planeta.
Julien- Temos mesmo que arranjar coragem, compadres!
(Faz-se silêncio)
Adriano- Caros companheiros, somos então da opinião de que os devemos convidar? 
Carina- Já pareces o Júpiter daquela peça «Os Lusíadas de Cuecas».
Adriano- De calções!
Julien- Eu não digo que esta comeu os queijos todos?
(Pausa e música)

Cena XI
(Grandes gestos e convívio entre terrestres e marcianos)

Cena XII
(A Sofia, apresentadora, interpreta os gestos , apontando para as personagens)

Sofia- Os terrestres disseram aos marcianos que tínham gostado muito de os conhecer e que gostariam de os receber na Terra, a fim de lhes mostrar as lindas cores do arco-iris em trica de umas lições de política social)
(Música-«What a Wonderfull World»)
Agradecimentos



«Uma viagem a Marte» espera por todos os leitores e, muito especialmente, por  aqueles que aceitarem o desafio de ilustrar as suas cenas e /ou trabalhar a sua dramatização.
A BE conta com os de dentro e com os de fora!


Aqui fica o convite!









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